Documento Sinodal - Comissão para Comunicação Social

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X SÍNODO DOS BISPO DOCUMENTO DA COMISSÃO PARA A COMUNICAÇÃO

SOB O PONTIFICADO DE SUA SANTIDADE, O PAPA JOÃO PAULO VII


INTRODUÇÃO
O interesse da igreja na Internet reflete seu interesse de longo prazo na mídia. Considerando que a mídia é o resultado de um processo científico histórico, os seres humanos “estão cada vez mais progredindo na descoberta dos recursos e valores contidos em tudo o que foi criado” [1]. Dizem que são "grandes invenções tecnológicas" [2], atendem amplamente às necessidades humanas e podem até fazer mais.

Dessa maneira, a Igreja adotou uma atitude fundamentalmente positiva em relação à mídia [3]. Mesmo que haja a condenação de abusos graves, o documento do Conselho da Igreja Pontifícia da Sociedade procura esclarecer que "a atitude puramente restritiva ou condenadora da Igreja... não é suficiente ou apropriada". [4]

CAPÍTULO I – Comunicação: caminho evangelizador – dispõe sobre a necessidade de comunicar.

Nós somos a existência do discurso. Vivendo com outras pessoas no mundo, somos mediados pela linguagem, isto é, existe a necessidade de comunicar de maneira acessível e inteligível aos nossos irmãos e irmãs em Cristo. O fato é que a comunicação de uma rede de idiomas extensa e complexa permite que sejamos abertos e livres com os outros. Tornando assim a linguagem uma condição possível para a nossa humanização e humanização dos nossos relacionamentos com aqueles que são nossos interlocutores.

Para o judaísmo e o cristianismo, essa é uma realidade tão importante que, juntamente com os muçulmanos, geralmente se considera que eles são as religiões do “livro”, embora muitos críticos possam levar isso em consideração. Nesse caso, a referência ao livro é uma referência direta à palavra de Deus: essas três tradições compartilham a mesma ideia: Deus se manifesta, ou seja, se comunica. Nesse sentido, o judaísmo trouxe um conceito importante para a compreensão de Deus. O Deus dos pais, o Salvador, é o Deus que criou tudo através de suas palavras. A palavra criada por Deus é outra expressão da existência. 

A Palavra de Deus é um relacionamento com Deus que fornece espaço para o espaço de vida do mundo e é um relacionamento.

É por isso que Deus se comunica: ele se apresenta como uma proposta de amor e comunhão. O sinal mais profundo dessa autocomunicação é

a Palavra de Deus, a encarnação do próprio filho, e ele se une às pessoas para fortalecer

totalmente o vínculo de amizade entre nós e Deus. Nesse sentido, Jesus é a parábola de Deus, ou seja, é a comunicação de Deus Pai com seus filhos na terra. Em Jesus estamos associados ao Pai Celestial de uma vez por todas, e quando temos a mesma natureza humana, somos obrigados a declarar essa graça ao mundo. A santa comunhão não é uma recompensa pela bondade, mas um presente para todos, basta abrir nossos corações para ela. 

Esta é a declaração e uma forma da necessidade de Jesus Cristo de permanecer comunicando o reino de seu pai. A mensagem é clara: o reino de Deus é um banquete para todas as vidas. 
Na Declaração do Reino, como proposta de interseção com o Deus Triúno (trino), as palavras não são suficientes. Precisamos fazer de tudo para que nosso testemunho seja confiável e toque o coração de todos.

A propagação do evangelho é declarar que merece esperança, porque Deus, que tanto nos ama, assumiu completamente a maneira como existimos, para que possamos viver em sua comunhão. Somente assim a humanidade poderá ser plenamente realizada. Essa é a missão da igreja, que tem muitos meios para espalhar a mensagem que Jesus pregou a todos.

CAPÍTULO II – Somos seres sociais e comunicativos – dispõe sobre o uso das redes sociais e demais veículos de comunicação.

Etimologicamente falando, a comunicação se refere ao estabelecimento de um relacionamento com alguém ou alguma coisa. Comunicação faz você entender. Todo mundo está se comunicando, de qualquer maneira. Afinal, as pessoas são naturalmente comunicativos.

Nossos ancestrais se comunicam desde dos tempos pré-históricos através de grunhidos e gestos, através de esculturas em pedra, inscrições no fundo de cavernas e arte rupestre da Era Paleolítica. A comunicação é geralmente uma questão de sobrevivência. A comunicação é essencial. Sem comunicação, a humanidade não será capaz de atingir seu próprio nível. Hoje, somos uma sociedade que apresenta comunicação e tecnologia de comunicação.

Antes do surgimento da humanidade civilizada como uma realidade, o indivíduo era considerado capaz de viver em uma cidade grande, e

havia apenas um caminho mínimo para essa compreensão do mundo: permanecíamos quase completamente silenciosos para aceitar cartas e da redistribuição da economia para os negócios. A transição econômica, das pequenas aldeias para o chamado estado urbano e a saída da população rural para o crescimento das metrópoles. As mudanças no sistema de posse da terra, a mobilidade geográfica e o crescimento de colônias em todo o mundo tornaram as chamadas "aldeias globais”. Eventualmente, a Internet abriu

janelas que antes eram bloqueadas pela cultura ou a distância total entre diferentes civilizações.

O desenvolvimento da comunicação permitiu que os humanos permanecessem na Terra. Do processo simples aos gestos incertos, expressão radical e rude, nossos ancestrais deram um grande salto na comunicação: da oral à escrita. Desde a escrita até a mídia moderna hoje, os chamados meios de comunicação de massa. Portanto, a comunicação é o produto de centenas de anos, milhares de anos e milhares de anos de provação e sucesso, vitória e derrota.

Ao longo do passado, é possível perceber as visões dos teóricos sobre a comunicação: isso não é mágico, não acontece intuitivamente. Embora seja cheia de charme, estimule o êxtase e contenha muita beleza, a comunicação ainda é muito trabalhosa, às vezes com um "refinamento cruel". 

Escrever exige que o autor tenha habilidades quase cirúrgicas: o texto nunca está pronto. Comunicar ideias com firmeza arruinará a alma. Quem nunca se sentiu "morrendo" na frente de uma plateia? No entanto, a comunicação sabe como ser tolerante com as pessoas que de verdade se dedicam a ela: aqueles que o fazem atingirão o objetivo pretendido: entenderão e serão compreendidos. E, no que diz respeito à comunicação, não há nada mais agradável do que se informar na verdade e anunciar as “boas novas”.
Toda comunicação ainda está cheia de rituais, processos e técnicas da vida. Porque, assim como a existência humana é profundamente marcada por rituais (cerimônias) e requer um entendimento que não o exime de pensar, a comunicação também é um ato de escolha e decisão, dizendo sim ou não.

Se os seres humanos são inerentemente um ser comunicativo, a seguinte afirmação é ainda mais correta: Deus é o supremo comunicador.


Numa época em que não há tempo e a eternidade é uma mulher absoluta, já existe comunicação no coração de Deus:  “Eu vim do Pai e entrei no mundo; agora deixo o mundo e volto para o Pai.” (Cf. Jo 8, 58).

Em Deus, o amor e o diálogo têm um relacionamento profundo: o diálogo entre o Pai e o Filho, o diálogo entre o Filho Santo e o Espírito Santo, e o diálogo entre o Espírito Santo e o Pai - a Trindade. A Bíblia é essencialmente comunicação, como um famoso hino da nossa comunidade cristã canta: “toda a Bíblia é comunicação de um Deus amor, de um Deus irmão, é feliz quem crer na Revelação, quem tem Deus no coração”.

Tomar o exemplo do “Cristo comunicativo” como maneira de agir é essencial para a propagação da fé. De fato, ninguém no mundo foi tão comunicativo como Jesus. Ele comunicou mais plenamente quem é Deus e quem é humano. Jesus tem o apoio do Pai Celestial porque ele também tem o espírito do Pai

Celestial, e ele também é seu pai. O relacionamento íntimo deles fez com que a pregação de Jesus fosse bem-sucedida: “ninguém nunca nos falou como Ele”, diziam os judeus de seu tempo (cf. Jo 7, 40-53). O ministério de Cristo é de comunicação sem precedentes. Ela atende a todos os requisitos para uma boa comunicação: direta, decisiva, personalizada, atenciosa, objetiva, atualizada, carinhosa, acolhedora e sobretudo: nunca imposta, grossa e completamente cheia de indiretas, como muitas de nossas postagens nas redes sociais estão hoje. Enquanto clérigos da Santa Mãe Igreja, tenhamos a plenitude de Nosso Senhor como exemplo de nossas postagens. É mais que importante que ao abordamos, sejamos carinhosos e mansos. Evitar partir para as brigas deveria ser uma atitude de todos.

Somos igreja viva, exemplo da comunidade leiga e exemplo dos outros irmãos de caminhada. Partindo ainda ao exemplo do Cristo, este documento esclarece que quando Jesus se aproximou das pessoas, ele estava realmente cuidando delas. Ele participou da narrativa de sua vida anterior. A dor e o sofrimento dos outros repousavam sobre seus ombros. Ele não se considerava mais que outra pessoa, ou seja, superior, nem se colocava acima da situação difícil do povo. Ele visitou os pacientes e curou-os, moveu os pacientes com lepra, conversou com as mulheres, deixou as crianças participarem de um discurso sobre o valor do reino de Deus, compartilhou a refeição com os pecadores públicos e condenou os aspectos excessivos e contraditórios dos poderosos, ou seja: Jesus foi um missionário e a característica principal do missionário é comunicar com prudência. Ele não ficou

impressionado com a chamada "cultura da morte", nem sucumbiu a ela. Jesus não tolera mentiras, hipocrisia e falsidade. No entanto, ele pagou um preço alto por essa comunicação efetiva e eficaz porque "quem se expõe, se expôs". Que possamos atrair os nossos leigos não pela busca incansável a qualquer preço, fazendo-nos perder até mesmo nossa dignidade, mas sim com o exemplo de Jesus Cristo!

O desenvolvimento idílico pelo qual a mídia católica deve passar é espalhar a luz do evangelho para que todos possam assistir. Para fazer isso, eles precisam falar menos sobre si mesmos e apresentar Jesus à pessoa que entende completamente nossa comunicação com nosso Pai Celestial.

CAPÍTULO III – Comunicar a fé: animar a igreja – dispõe sobre a necessidade de expansão massiva dos meios de comunicação.

Desde da utilização de sinos por parte do catolicismo como uma maneira de chamar os fiéis para celebrar cultos até a plataforma de comunicação moderna existente, a chamada unimedia (não mais multimídia), ou seja, todas as mídias estão reunidas na mesma plataforma, muito aumentamos nossa responsabilidade pelo evangelismo, de fato, essas são as boas novas de Cristo. 


Os últimos documentos do Magistério nos intimam: “Procurem, de comum acordo, todos os filhos da Igreja que os meios de comunicação social se utilizem, sem demora e com o máximo empenho nas mais variadas formas de apostolado, tal como o exigem as realidades e as circunstâncias do nosso tempo” (Cf. Inter Mirifica, n. 13). E ao lembrar de que a igreja nasceu pela ação do evangelho de Jesus e de doze pessoas, de acordo com a carta deles, o papa Paulo VI recordou-nos em sua “Evangelii Nutiandi”  que o Concílio Ecumênico Vaticano II afirmou que: “No nosso século tão marcado pelos ‘mass media’, o primeiro anúncio, a catequese ou o aprofundamento ulterior da fé, não podem deixar de se servir destes meios conforme já tivemos ocasião de acentuar” (Cf. EN. n. 45). Ainda olhando para a realidade o papa Francisco, para o 50º Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2016, destacou que “a comunicação tem o poder de criar pontes, favorecer o encontro e a inclusão, enriquecendo assim a sociedade. 

Como é bom ver pessoas esforçando-se por escolher cuidadosamente palavras e gestos para superar as incompreensões, curar a memória ferida e construir paz e harmonia”. E nós, ousaremos imitá-Lo em nossas comunicações?

Comunicar a nossa fé é estabelecer um diálogo sadio com todos os cristãos, enfrentar as ocasiões de pecado e animar a Santa Igreja. Se as mídias sociais católicas, nossos perfis e páginas falharem em transmitir a riqueza da fé além do nível da religião e piedade, comunicar a esperança e a alegria de pertencer a Igreja, elas não serão capazes de desempenhar bem seu papel evangelizador. O evangelismo, inclui Jesus e o Reino que declarou Jesus para proclamar e assumir o cargo.

RECOMENDAÇÕES E CONCLUSÃO

1. Pessoas religiosas, bem como membros preocupados do público mais amplo da Internet, que também têm interesses pessoais legítimos e especiais com a Igreja, esperam participar desse processo, o que levará ao desenvolvimento futuro dessa nova ferramenta de comunicação. Redundantemente, isso às vezes exige que eles corrijam seu pensamento e comportamento nas postagens em mídias sociais.

2. É ainda mais importante que pessoas de todos os níveis da igreja usem a Internet de maneira criativa, assumam suas responsabilidades e ajudem a igreja a cumprir sua missão. Dadas as inúmeras possibilidades positivas que a Internet traz, é inaceitável hesitar timidamente por medo de razões técnicas ou outras.

3. Melhorar os métodos de comunicação e diálogo entre os membros pode fortalecer o vínculo entre os membros. O acesso imediato à informação torna

possível para [a Igreja] aprofundar a conversa com o mundo contemporâneo. A igreja pode apresentar mais facilmente seu credo ao mundo e explicar sua posição em cada questão ou evento. Por isso a expansão dos meios de comunicação pouco utilizados, mas de valor significativo devem ser explorados, tais como: YouTube, Instagram e Twitter. Ouvindo a voz da opinião pública com mais clareza e conduzir discussões contínuas com o mundo circundante "para que possa participar mais diretamente" na busca de soluções para os problemas mais prementes. (cf. Communio et progressio114) ». [5]

4. É preciso toda a temperança — uma abordagem disciplinada deste instrumento tecnológico, a Internet, a fim de o utilizar de maneira sábia e exclusivamente para o bem. Por isso, a criação de uma rádio realmente ativa e com programações abertas a espiritualidade e lazer possam ser feitos com a participação massiva da comunidade leiga.



5. As pessoas que ocupam lugares de liderança, em todos os sectores da Igreja, precisam de compreender os "mass media", de aplicar esta compreensão na elaboração de planos pastorais para as comunicações sociais, como por exemplo a criação de uma fanpage noticiando os principais eventos da Santa Mãe Igreja.

Ao refletir sobre a Internet e outras mídias, devemos lembrar que Cristo é o "protótipo de comunicação" [6] - as normas e modelos de métodos de comunicação adotados pela igreja, e a igreja tem a responsabilidade da comunicação. "Que os católicos que estão envolvidos em interação social com o mundo sejam mais corajosos e proclamem com ousadia a verdade de Jesus no telhado, para que todos os homens e mulheres possam ouvir o amor de Deus em Jesus Cristo, a autocomunicação de Jesus. Ainda ontem, hoje e eternidade " [7]


Dom Raul Alberti Cardeal Damasceno
Presidente da Comissão Sinodal


[1] Cf. João Paulo II, Carta Encíclica Laborem exercens, 25; cf. Concílio Vaticano II, Constituição Pastoral sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudium et spes34.
[2] Cf. Concílio Vaticano II, Decreto sobre os meios de comunicação social Inter mirifica1.
[3] Cf., por exemplo, Inter mirificaas mensagens do Papa Paulo VI e do Papa João Paulo II por ocasião dos Dias Mundiais da Comunicação; Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais.
[4] João Paulo II, Mensagem para o XXIV Dia Mundial das Comunicações, 1990.
[5] Cf. [54Communio et progression. 10.
[6] João Paulo II, Mensagem para o XXXV Dia Mundial das Comunicações, n. 4, 27 de Maio de 2001.
[7] Propostas adaptadas e baseadas na carta: “Igreja e Internet” do Pontíficio Conselho para as Comunicações Sociais de 22 de fevereiro de 2002